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Reserva Araponga

  • 11 de set. de 2024
  • 6 min de leitura

De vez em quando acontecem algumas coisas na vida da gente, que nos surpreendem profundamente; coisas inesperadas, que não programamos e nem imaginávamos programar. De repente, uma mensagem no WhatsApp, nos coloca em contato com uma pessoa desconhecida, para falar de assuntos que jamais passariam pela nossa mente. Foi exatamente isso que aconteceu, quando recebi uma mensagem do Christian Dobereiner; para tratar de assuntos pertinentes, a uma reserva natural particular, propriedade dele, onde está sendo construído um acampamento base, a fim de abrigar aventureiros, adeptos da natureza selvagem. Confira nesta postagem esse presente que caiu do céu, para quem é apaixonado por aventura.

Paisagens exuberantes em cada palmo do caminho.


O Christian entrou em contato comigo na quinta feira (05/09/2024); no sábado (07/09), já estávamos; Douglas e Eu, a caminho da reserva Araponga. A proposta inicial era para investigar duas cavernas que haviam sido encontradas na área da reserva. Mas o que nos motivou agir imediatamente, foi a oportunidade de desbravar uma região selvagem e cheia de encantos. Não imaginávamos o quanto seria emocionante essa atividade. As primeiras maravilhas apareceram pelo caminho, principalmente na região da cidade de Anitápolis. Esta cidade, entrecortada pelo Rio Povoamento, guarda nas vizinhanças do perímetro urbano, incríveis paisagens, que encantam a vista do viajante mais atento. O rio segue paralelo à estrada estadual SC 108; até encontrar o Rio Braço do Norte; que continua paralelo a estrada, onde se pode apreciar as maravilhas da natureza, em diversos mirantes, até chegar em Santa Rosa de Lima.

Um lugar incrível para quem ama a natureza selvagem!


Chegamos no acampamento base no sábado, passava de meio dia, o Rodinaldo; morador local; foi nosso guia; nos acompanhou até um trecho da trilha do Puma; nos passou todas as informações necessária para continuarmos a exploração. Nossa primeira missão foi verificar uma possível caverna, encravada na base de um penhasco. Na realidade, uma pequena cavidade; formada pelo desprendimento de placas de basalto. Caprichosamente boa parte da água que infiltrou no topo da montanha, abriu um longo e estreito túnel. Durante algum tempo aquele túnel serviu de escoamento e toda água que por ele escorreu, deve ter feito com muita velocidade. Bem no final do túnel o desprendimento de placas maiores formou um pequeno abrigo, com cerca de dez metros de profundidade, por uns seis metros de largura e não mais que três metros de altura. Este salão pode ser considerado uma "toca", segundo a classificação das cavernas. O dito túnel, atualmente está totalmente atulhado, muito pouca água escorre por ele (pelo menos em dias secos, com chuva forte será preciso observar); mas em algum momento do passado, talvez fosse possível adentra-lo, como se fosse uma chaminé. Suspeitamos porém; que mais no topo daquele morro, possam existir "Dolinas"; devido ao tipo de formações rochosas. É possível encontrar, além do basalto, rochas calcárias e arenitos. Mas isso é apenas suposição, entretanto é um magnifico local para pesquisas geológicas. Para nós ficará conhecida com "Toca do Puma".

Toca do Puma


Depois de explorarmos a Toca do Puma, nos dirigimos para uma segunda cavidade, muito pequena, não se enquadra como caverna. Batizamos como "Abrigo 1". No interior deste abrigo encontramos uma sandália de trilha, da marca Queshua, sinal que algum aventureiro circulou por lá, pela cor da sandália deve ter sido uma aventureira. Segundo informação do Rodinaldo o calçado está lá faz uns vinte anos. Algumas perguntas não se calam: O que aconteceu com a pessoa, naquele lugar tão remoto e de difícil progressão? Porque só um pé da sandália ficou lá? Se a pessoa não tinha outro par de calçado, como foi que conseguiu progredir naquele terreno tão íngreme, pedregoso e escorregadio? Será que foi atacado por um puma? Afinal, a trilha é cheia de pegadas do bicho!

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Neste ponto; Rodinaldo, nosso guia, voltou, nos deixando devidamente explicado como deveríamos proceder para atingir o cume do Morro do Balanço Infinito. Seguimos então, Douglas e Eu; rumo ao pico de uma formação muito interessante; que estava muito próximo do abrigo. Próximo não é sinônimo de fácil, foram poucos metros de subida muito íngreme, talvez uns oitenta graus; ou mais, de inclinação em alguns pontos. Antes de chegar ao topo, foi preciso caminhar numa trilha com menos de um metro de largura, parecia ser o espinhaço daquela formação. Nos dois lados dessa estreita trilha; precipícios perigosos, cobertos de vegetação, em um dos lados, o esquerdo de quem segue para o pico, certamente com mais de duzentos metros de profundidade, no lado direito bem menos e não tão assustador, pois fica parcialmente encoberto por uma capoeira baixa. Alguns metros caminhando por este espinhaço, alcançamos uma formação rochosa, pontiaguda, foi preciso muito cuidado para subir, pois alguns matacões, de razoável tamanho estão se desprendendo da formação. Um movimento brusco e aquelas pedras podem rolar precipício abaixo. Entre uma pedra e outra, no vão da rachadura, nasceram cactos, muito lindos, cobertos de espinhos; um simples toque na pele e dezenas desses espinhos ficam encravados de tal jeito, que não se consegue mais tirar, pois são fininhos como um fio de cabelo. É preciso queimá-los na chama do isqueiro. A vista deslumbrante lá do alto, compensou todos os perrengues. De lá conseguimos comunicação com o Christian, que estava no chalé. Ele pensou em enviar um drone para nos filmar, mas estávamos a mais de 1200 metros de altitude, mal conseguíamos avistar o chalé lá de cima.

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Batizamos esse lugar como "Primeiro Pico" - Temporariamente.


O ar enfumaçado, limitava bastante a visão e entre aquele recortado relevo, com picos superiores a dois mil metros, o sol se escondeu cedo. A noite nos pegou no retorno para o acampamento base. Quando chegamos na base, dezenas de luzes brilhavam ao redor da barraca, eram bois e vacas que, curiosos cercaram o acampamento, conforme a luz da lanterna refletia, naqueles olhos, dava a impressão que eram pirilampos gigantes esvoaçando por ali.


O primeiro dia foi bastante exaustivo, longo, pois a exploração do lugar emendou com uma viagem de três horas, só para chegar na propriedade. O segundo dia amanheceu um pouco menos fumacento, nossa proposta era subir até o segundo pico, que estava a mais de 1600 m de altitude e, caso desse tempo, um terceiro, mais alto ainda. O topo é um lindo planalto que pertence ao município de Urubici.

Novamente seguimos a Trilha do Puma, até a bifurcação que levava ao topo do Primeiro cume. Dali em diante a trilha ficou bem complicada e perigosa. Muito escorregadia, pedras soltas, precipícios. Tivemos dificuldade para superar alguns obstáculos que se apresentaram, mas a cada palmo do caminho, as paisagens que vislumbrávamos, compensavam o sofrimento do corpo. A mente se libertava, parecia querer voar, um voo mágico, a partir daqueles enormes penhascos, córregos de água cristalina apareciam aqui e ali, formando pequenas cascatas ou correndo por entre as pedras. Uma água gelada e deliciosa, verdadeiro refrigério para o corpo cansado. Demoramos bem mais do que esperávamos para completar o difícil percurso. Por volta das 13:30 fizemos uma pausa para o almoço. Tínhamos na mochila um resto de arroz com galinha, sobra da janta, na noite anterior e alguns salsichões. Improvisamos um fogo entre as pedras assamos os salsichões e esquentamos o arroz, rapidamente nos alimentamos e seguimos rumo ao topo. Antes de partir recolocamos as pedras nos lugares de onde havíamos removido, espalhamos as cinzas, limpamos o lugar para não deixar rastros. Estava ficando tarde, precisávamos acelerar; mas na medida que progredíamos as lindas paisagens nos forçavam parar para fotografar. Os biomas iam se modificando na medida que subíamos a montanha. Xaxins gigantes, como eu nunca tinha visto, formavam recantos que eram por eles dominados, gigantescas formações rochosas de calcário, brancas como a neve, nos tornavam insignificantes insetos, perante tão majestosa presença; árvores frondosas, cantos de pássaros, perfumes diversos! Era impossível escapar daqueles encantos, eles nos enfeitiçavam; nos atrasavam... mas quem pensaria em atrasos naquele momento!


Atingimos o pico passava de 15:30, já estávamos trilhando há quase 6 horas. A paisagem mudou radicalmente, agora apareciam muitas araucárias. Um lindo planalto se apresentou para nós; quase não tinha árvores. O Gado pastava numa grama tão verde e bonita, que parecia um tapete; na borda oeste do campo um precipício profundo, como se a montanha tivesse sido recortada. Pelo jeito foi, dizem que aquele lugar se formou durante a separação dos continentes e; no outro lado do Atlântico na África, uma paisagem semelhante pode ser encontrada.

Iniciamos a caminhada rumo ao Balanço infinito; um tanto preocupados com o retorno, pois fazer todo aquele trecho de noite, não seria tarefa muito fácil! Combinamos que iríamos progredir morro acima até as 16 horas; então retornaríamos, independentemente do ponto alcançado. Quando bateu dezesseis horas paramos. Marquei no GPS: "Chegamos até aqui".

O cansaço era grande; olhamos a trilha, na mata fechada e percebemos que pouco acima o sol brilhava intensamente. Mais uns poucos metros estaríamos no alto daquele morro; desconsideramos o que havíamos decidido, movimentando nossos corpos exaustos até o cume. Foi a melhor decisão que tomamos. De lá a vista alcançava o infinito, poderia alcançar mais ainda se não fosse aquele ar fumacento. Fomos recebidos por dois filhotes de Border collie, lindos, queriam brincar. Por alguns minutos contemplamos aquela maravilha e iniciamos o retorno. Na mata escurece cedo, bem antes da metade do caminho ficou tudo escuro. Apesar disso em apenas três horas conseguimos chegar no acampamento base. Dois momentos críticos perturbaram a nossa paz, mas terminou tudo bem! Agora é preparar a volta!



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3 comentários

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Convidado:
13 de set. de 2024
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Que relato interessante e detalhado! Dá vontade de conhecer!

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Convidado:
12 de set. de 2024
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Sobre a Sandália, o mistério está resolvido, é minha, sou Nathachi e a perdi pois a alguns anos estávamos abrindo/buscando uma antiga trilha para cima por lá e estava pendurada na mochila, só não entrei em nenhuma toca rs. Chegamos a um cume onde já não era possível prosseguir. O lugar é realmente tão exuberante e quanto descrito e não foi feito para turismo em massa e sim para grupos pequenos explorarem com muito respeito a natureza e necessidade de habilidades de montanhismo e navegação.

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Convidado:
13 de set. de 2024
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Rsssss! Nathachi deixando suas marcas e mistérios nas trilhas por onde passa!!!!

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